No meio do debate (quase esquecido) sobre o início operacional da reforma tributária, um tema que vem preocupando empresários tributaristas e, especialmente, integrantes do governo sobre a indefinição da composição do principal instrumento de execução do novo modelo de arrecadação, que é a criação do Comitê Gestor do IBS.

Na prática, enquanto empresas e consultorias já “rodam” as rotinas da reforma em laboratório fiscal, o mês de setembro está terminando e ainda discutimos como instalar um órgão que deveria estar funcionando plenamente em janeiro de 2026.

Etapa decisiva

Tudo isso tem a ver com a tramitação do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 108/2024, que marca a segunda e decisiva etapa legislativa da reforma tributária sobre o consumo. Como se sabe, após a promulgação da Lei Complementar nº 214/2025 – que definiu os contornos materiais e conceituais dos novos tributos – o PLP 108 assumiu o papel de detalhar a arquitetura operacional, administrativa e de governança que sustentará o novo sistema.

Tributarista Alexandre Albuquerque alerta para o risco da Reforma TRibutária não começar em 2026. Keila Castro/Divulgação

Problema político

Para o advogado tributarista, Alexandre Albuquerque, sócio do escritório Ivo Barboza & Associados, o problema não é técnico – é político. E se não houver solução imediata, o novo sistema tributário pode nascer já em crise.

E entre os pontos mais sensíveis (e politicamente relevantes) está a criação do Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços. Só que a criação e instalação do CG-IBS têm sido objeto de impasse entre as entidades representativas dos municípios que precisam, em conjunto, indicar 27 integrantes do conselho. E eles não se entendem. Nem para sentar à mesa para debater a questão.

FNP x CNM

A Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP), que reúne as capitais e cidades com mais de 300 mil habitantes, e a Confederação Nacional de Municípios (CNM), que representa a maioria dos municípios brasileiros.

E depois de meses após a aprovação da reforma na Câmara Federal e agora após a entrega da proposta de Eduardo Braga, eles não chegaram a um consenso sobre o modelo de representação no Conselho Superior do CG-IBS.

Viabilidade em 2026

Para Alexandre Albuquerque, o cronograma da reforma reacendeu dúvidas sobre sua viabilidade operacional em 2026. Ele lembra que o Senado, por meio do Parecer nº 40/2025 de Eduardo Braga, propõe uma solução pragmática em duas etapas:

Na primeira seria feita a criação de um CG-IBS provisório. Ele teria representantes indicados diretamente pela FNP e pela CNM, permitindo que o órgão entre em funcionamento efetivo. Na segunda, de caráter permanente, reduziria o quórum necessário para a eleição de uma chapa para 30% dos municípios – seja em número absoluto ou proporcional à população – tornando o processo mais fluido e menos suscetível a bloqueios políticos.

Boa governança

Para o tributarista, a medida revela um entendimento importante: “O sucesso da reforma tributária não depende apenas de regras fiscais bem desenhadas, mas também de uma governança institucional funcional e estável”. Isso é verdade, entretanto falta combinar com os líderes das entidades municipais e o nível de críticas de ambas as partes é um sinal preocupante.

Alexandre Albuquerque lembra que, embora as alíquotas previstas para 2026 sejam simbólicas (0,9% para a CBS e 0,1% para o IBS), esse primeiro ano será fundamental para a calibração do sistema.